sexta-feira, 18 de julho de 2014

Nuno Crato: política de golpadas

Ser governante deveria implicar regras éticas. Quem governa deveria sentir-se vinculado a um código de ética política, onde a transparência, a honestidade e a lealdade para com os governados estivessem asseguradas como regras essenciais. Governar significa decidir sobre a vida de milhares ou de milhões de pessoas que, por mandato, transferem o seu poder de decidir para outrem. Se um governante sabe isto, sabe que não pode ocultar comportamentos ou decisões, não pode enganar nem ser desleal para com quem lhe transferiu o poder. Se um governante sabe isto e não o pratica, deixa de ser um político e passa a ser um escroque político. 
Na verdade, governar não é a arte da finta, do truque ou da golpada. Governar nunca pode ser isto. E o governante responsável pela Educação mais ainda deveria sentir-se impedido de transformar a política nisto. Lamentavelmente, Nuno Crato e a sua equipa não pensam nem fazem assim. De finta em finta, de rasteira em rasteira, de golpada em golpada, Nuno Crato e a sua equipa fazem disto a sua política, desde a tomada de posse. Foi assim com a avaliação do desempenho docente, foi assim com a reforma curricular, foi assim com o regime de mobilidade, foi assim com o encerramento de escolas, foi assim com a avaliação dos centros de investigação, foi assim... está a ser assim com a municipalização escolar e, desde ontem, também está a ser assim com a remarcação da prova de ingresso para os professores contratados. 
Nesta remarcação da prova, Nuno Crato e a sua equipa comportaram-se como o vigarista que, às escondidas, se deleita, enquanto prepara a golpada com que vai surpreender a vítima. Anunciar com três dias úteis de antecedência a realização de uma prova nacional — prova que interfere com a vida de milhares de professores e com a organização de dezenas de escolas — apenas para impedir que os sindicatos e os professores possam possam fazer uso do direito à greve, é uma trapaça de política rasca e uma inaceitável afronta a um direito estrutural da democracia. É levar a política para o nível da sarjeta.

A Educação não pode continuar a ser dirigida por alguém que acumula uma impressionante ignorância sobre a pasta que superintende com a total ausência de pruridos ético-polítcos.