terça-feira, 24 de setembro de 2013

Avaliação do desempenho — cinco anos depois

Passaram cinco anos desde o momento em que um arrebatamento desvairado e fanático chegou a um dos nossos (des)governos e impôs uma coisa que alegadamente deveria ser uma avaliação do desempenho docente (ADD). Mas a descontrolada exaltação dos protagonistas governamentais na implementação do que supostamente iria ser a verdadeira avaliação dos professores era inversamente proporcional às capacidades e competências que tinham para a concretizar. Foi assim que, de forma grotesca, foi produzida uma legislação idiota que exigia que quinze dias após a sua publicação (Janeiro de 2008) começasse a ser levada a cabo uma verdadeira monstruosidade ininteligível, absurda e impraticável. Passaram os dias, passaram as semanas, passaram os meses e evidentemente que aquilo que estava prescrito nunca foi realizado, porque a nesciência nega-se a si mesma. A ignorância e a leviandade dos responsáveis pela aberração legislativa — Sócrates, Rodrigues e a sua equipa — tinham atingido uma dimensão inimaginável. Na verdade, ninguém conseguiria supor que um dia poderia chegar ao poder um grupo de aventureiros que, sem nada saber de avaliação do desempenho docente e sem nada conhecer da realidade que alegadamente queria avaliar, tivesse a insanidade de dar livre curso ao seu fanatismo.
Circunstâncias várias — desgraçadamente próprias do pântano comportamental que serve de referência a grande parte da classe política e sindical — concorreram para que aquilo que resultou de uma enormidade conceptual e de vários desequilíbrios psicológicos fosse sucessivamente enxertado, remendado, chanatado e fosse, até aos nossos dias, sobrevivendo, transformado numa amálgama de incongruências teóricas e de dislates técnicos indutores de uma generalizada coreografia pseudo-avaliativa que predomina no dia-a-dia das escolas.
As perguntas que agora temos de fazer são as seguintes:
a) O chamado modelo de avaliação do desempenho docente, de sucessivas autorias (Rodrigues, Alçada, Crato), demonstrou ou demonstra ser minimamente rigoroso, sério e credível?
b) No decurso destes cinco anos de vigência formal da dita ADD, o Ministério da Educação ministrou alguma formação de nível superior de média ou longa duração a quem exerceu ou exerce as funções de avaliador?
c) Globalmente, quem exerceu ou exerce as funções de avaliador está preparado teórica e tecnicamente para as exercer?
d) Ao fim de cinco anos, pode-se detectar alguma melhoria nas práticas lectivas dos professores por via da ADD em vigor?

A resposta às quatro perguntas é um vergonhoso: Não!
Cinco anos volvidos, que ganharam os alunos, que ganharam as escolas com o fanatismo (pseudo) avaliativo que mentes tresloucadas levaram a cabo? A resposta é um indecoroso: Nada!
Sem formação e sem capacitação dos avaliadores (centenas deles foram, através de um abuso de poder, coercivamente «conduzidos» a aceitar a função) e com um modelo de avaliação tecnicamente incompetente, a avaliação do desempenho docente que se faz nas escolas resume-se a uma inaudita encenação, a um indecoroso faz-de-conta. O rei vai completamente nu e o Ministério da Educação sabe disso, os avaliadores sabem disso e os avaliados também, mas a obstinação ideológica de quem manda prevalece. Esta dita avaliação é um nada absoluto que contentou e vai contentando a hipocrisia de quem governou e de quem governa.
Cinco anos depois repugna olhar para o processo e para resultado de tamanha demência política.